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Rooibos, o desconhecido tesouro africano

No vasto universo das infusões existe um tesouro valioso que merece nossa atenção, seu nome científico é Aspalathus Linearis, mas costumamos chamá-lo de Rooibos. 

Originário da região de Cederberg, na África do Sul, esse arbusto pertencente à família das leguminosas é mais do que uma planta, é tradição, história e fonte de saúde. O nome Rooibos, pronunciado originalmente “Roy-boss”, significa “arbusto vermelho” em Africâner (um dos idiomas falados na África do Sul). O termo reflete bem a cor avermelhada das folhas da planta depois de processadas.

Imagem à esquerda: Arbustos de Rooibos em Cederberg. Imagem central: Rooibos recém-processado.
Imagem à direita: Rooibos tradicional pronto para consumo.

Amplamente conhecido em todo o mundo e apreciado por gerações em seu país de origem, a infusão é rica em antioxidantes, vitaminas e minerais, oferecendo uma alternativa ao consumo dos chás puros, erva-mate e ao café, pois diferente destes, é totalmente livre de cafeína. 

O estudo The health benefits of rooibos tea in humans (aspalathus linearis)”, em português, “Os benefícios do chá rooibos para a saúde em humanos (aspalathus linearis)”, destaca inúmeros benefícios atrelados a ingestão do Rooibos, entre eles, suas propriedades antioxidantes e o auxílio no controle e prevenção de doenças crônicas, como cardiovasculares e diabetes.

Com uma paleta de sabores que transita entre o doce, frutado, terroso, amadeirado e floral, essa ampla variedade de notas cativa até mesmo os paladares mais exigentes, proporcionando uma experiência sensorial inigualável. 

A região de Cederberg é o único local onde os arbustos de Rooibos são cultivados, e é impressionante como eles se adaptaram ao clima e solo exclusivos dessa área. Esse fenômeno permite que os agricultores locais pratiquem o cultivo do Rooibos de forma sustentável e rentável, enquanto protegem o delicado ecossistema do lugar.

Quando cultivados em seu ambiente natural, os arbustos de Rooibos têm vida média de 6 anos e podem atingir aproximadamente 1,5 metros de altura, com raízes que se estendem até 2 metros abaixo da superfície do solo. Durante esse período proporcionam quase sempre um total de 4 safras abundantes. Segundo dados do Rooibos Council, 14 mil toneladas é a média produzida por ano.

Assim, cada planta de Rooibos não só representa uma fonte de nutrientes deliciosa e saudável, mas também uma conexão com a terra e a comunidade, sustentando uma tradição que perdura por gerações.

Rooibos recém-colhido sendo encaminhado para a unidade de processamento

Unidade de corte e processamento da erva

Um breve panorama histórico 

A história do Rooibos é uma jornada fascinante que se inicia há mais de 300 anos, com raízes profundamente entrelaçadas na cultura e nas tradições sul-africanas. 

Desde os primeiros registros do botânico Carl Thunberg, em 1772, até os métodos de produção mais modernos, o Rooibos atravessou um caminho marcado por descobertas, inovações e mudanças significativas na indústria. 

Os primeiros produtores de Rooibos foram os Khoisan, que há séculos conheciam as propriedades medicinais da planta nativa. No entanto, é importante notar que há poucas evidências sobre a data de início da produção e sobre a forma como o Rooibos era produzido.

Foi somente quando os colonos europeus chegaram à região do Cabo ocidental que a erva começou a ganhar destaque como uma alternativa mais acessível ao chá preto importado. 

No início do século XX, o imigrante russo Benjamin Ginsberg desempenhou um papel crucial na história ao iniciar a produção comercial de Rooibos em sua fazenda. Sua visão e empreendedorismo contribuíram para o crescimento e popularidade da indústria local e internacional.

Da tradição à modernidade

O cultivo e produção do Rooibos passaram por uma notável evolução ao longo do tempo, refletindo mudanças sociais, tecnológicas e ambientais. Inicialmente, o Rooibos crescia de forma selvagem e a colheita era realizada manualmente com facas e foices. 

O processamento envolvia técnicas rudimentares, como cortar as folhas e esmagá-las com martelos de madeira, seguida por um método de fermentação natural ao ar livre. Essa produção artesanal, embora eficaz, era trabalhosa e muitas vezes resultava em variações na qualidade do produto. 

Ferramentas utilizadas na indústria do chá rooibos no início do século XX. A: Moker (martelo de madeira), usado para machucar folhas de rooibos para melhorar o processo de oxidação/fermentação; B: marreta mestra; C: bloco de limpeza (pedaço de madeira com borracha de pneu) utilizado para limpar a semente do rooibos e aumentar a poder de germinação; D: pá de madeira, utilizada para espalhar o chá de rooibos após a oxidação/fermentação para que possa secar ao sol.

Imagens: Gorelik (com permissão do Clanwilliam Museum)

Com o avanço da tecnologia e o aumento da demanda, a produção de Rooibos se modernizou. Máquinas de corte substituíram as ferramentas manuais, aumentando a eficiência e uniformidade do processo. Técnicas de fermentação foram aprimoradas, permitindo um controle mais preciso sobre o sabor e aroma da infusão. 

Apesar dessas mudanças, algumas práticas fundamentais permaneceram consistentes, como a preocupação com a preservação das plantas e a busca pela qualidade do produto final. 

Sintetizando, a evolução da produção de Rooibos demonstra uma harmonia entre tradição e inovação, onde antigas técnicas se adaptaram ao mundo moderno, preservando ao mesmo tempo a essência e autenticidade desse valioso recurso sul-africano. 

Atualmente, o mercado que atende a demanda global por Rooibos é significativamente maior, com uma rede que já engloba 300 grandes produtores, em média 150 produtores artesanais e 11 processadores da planta e de extratos.

Os Rooibos verde e vermelho são amplamente consumidos por suas propriedades antioxidantes e benefícios à saúde, refletindo a evolução contínua da indústria ao longo dos anos. 

A sua história é uma narrativa de resiliência e orgulho sul-africanos, que continua a cativar os amantes de chás e infusões em todo o mundo.

Benício Coura, cofundador da Chá Dō e apaixonado por Rooibos, em Cederberg

Imagens: Johan Smit / Chá Dō

2 comments

  1. Carla Saueressig

    Que maravilha!
    Parabéns pelo teu trabalho!

    1. BENICIO ANTONIO COURA

      Obrigado pelo seu carinho.

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